
«Quando todos lutarem, a coisa muda de figura»
Podes apresentar-te como trabalhador?
Trabalho no Aeroporto de Lisboa na Ground Force, a empresa de operações terrestres da TAP, na área de passageiros, na parte da aerogare. Já estou há mais de um ano, com um contrato a termo incerto, por uma das empresas de trabalho temporário, o que dificulta muito a movimentação em termos de activismo, pois em poucos dias mandam-me embora se for persona non grata.
Portanto o trabalho sindical e político é difícil?
Sim, mas ao mesmo tempo também é desafiante. Convive-se todos os dias com trabalhadores muito precarizados e, por tal, com uma consciência política que se eleva muito rapidamente. O facto de muitas vezes termos salário em atraso, mudanças de turno na véspera, direitos negados, como o acesso à cantina, etc., constitui uma plataforma de trabalho e um desafio enorme.
Colegas teus verão o seu terceiro contrato chegar ao fim. Haverá renovação?
Em Novembro de 2008 e em Fevereiro de 2009, a maior parte dos meus colegas não tiveram os contratos renovados. Estes trabalhadores chegaram ao fim da linha, a sua experiência e qualidade serão descartados pela empresa. Serão substituídos pela geração seguinte, que verá o seu ciclo terminar ao fim de três ou quatro anos, tal qual os colegas despedidos nos anos anteriores. É neste ponto que se encontra a discussão com os meus colegas. Se não fizermos nada findo o nosso ciclo, seremos postos na rua. Então não temos muito a perder: “mais vale morrer de pé do que de joelhos”, como dizia alguém.
Qual o papel dos sindicatos na defesa dos vossos direitos?
As direcções dos sindicatos, sem excepção, estão comprometidas com a administração e o governo. Embora os cinco sindicatos principais se tenham unido de forma a fortalecer a luta, a verdade é que foi para a trair. Daí os acordos para a suspensão salarial nestes últimos anos, a assinatura de protocolos com a administração, quebrados por esta a seu bel-prazer, a desconvocação de greves e formas de luta que possibilitem a mobilização efectiva dos trabalhadores, etc. Tudo isto impossibilita pressionar a empresa a dar aquilo que é nosso.
E têm o apoio da comissão de trabalhadores?
A comissão de trabalhadores vê-se como uma entidade fiscalizadora. Pela sua direcção jovem e heterogénea – embora maioritariamente PCP –por vezes tenta dar um ar da sua graça. Contudo, não faz nada de relevante. Esta CT é um sinal dos tempos: um movimento sindical em crise e quadros políticos reformistas e com pouca experiência.
Foi eleita numa lista única e só os efectivos podiam votar! Só por esta atitude, podemos ver o seu calibre. Ainda assim, há elementos lá dentro que são válidos e ainda não estão completamente “contaminados”. Contudo a sua dinâmica é regressiva, reformista.
Qual então a alternativa para a resistência organizada dos assalariados da Ground Force?
O caminho é organizar os contratados e temporários em torno da reivindicação da efectivação após um ano de trabalho. São estes os trabalhadores cuja realidade é mais dura, mais frágil, e são utilizados pela empresa para baixar custos e garantir os serviços nas greves. Quando este sector estiver organizado e se juntar aos efectivos e todos em conjunto lutarem, então aí a coisa muda de figura.
.