O perfume do petróleo
40 por cento do comércio da Rússia é feito com a Europa e respeita ao gás e petróleo. Um terço do carburante consumido na Europa provém da Rússia e nos próximos anos esta percentagem crescerá pelo menos de mais 10 por cento.
Em todo o mundo, o petróleo é transaccionado em dólares, mas metade das exportações do gás russo já são feitas em euros. Quando foi invadido, o Iraque estava a comerciar o petróleo em euros e a Líbia e a Argélia estavam prestes a fazer o mesmo. Se o comércio mundial de petróleo passasse a ser feito em euros, os EUA entrariam num conflito insanável com a área do euro e, em paticular, com o seu núcleo fundador, a Alemanha e a França.
A economia norte-americana atravessa sem dúvida uma fase muito delicada, com uma dívida pública astronómica e um défice de milhares de milhões de dólares na balança de pagamentos. Tudo isto seria mais que suficiente para levar a uma forte desvalorização do dólar mas, desde 1945, a moeda norte-americana dispõe das enormes “subvenções globais” que resultam da sua liderança. Quatro quintos das transacções internacionais, metade das exportações e dois terços das reservas monetárias globais são em dólares. O comércio do petróleo em dólares é um pilar desta posição. Se ele desabar, virá abaixo a possibilidade de a economia norte-americana fazer-se subvencionar sistematicamente pelo resto do mundo.
O grande comércio da UE com o Médio Oriente representa uma ameaça para os EUA. Com o alargamento a 25 Estados a UE tem 450 milhões de habitantes e compra metade do crude produzido pelos países da OPEC. A pressão de um cliente de tal envergadura está a levar os países da OPEC a considerar vantajosa a passagem do dólar ao euro, além de darem satisfação a um ressentimento anti-americano radicalizado. O euro atrai outras economias, como a da Venezuela, o que permite compreender o inventivo e as reacções positivas dos EUA aos golpes anti-Chávez. Venezuela, Rússia e China diversificaram as reservas dos seus bancos centrais, que doravante já não são apenas em dólares mas também em euros. É também conhecido o interesse do Japão em ver contestado o monopólio global do dólar.
Claro que o euro ainda não é tão forte a ponto de meter medo ao dólar mas o cenário futuro poderá revelar uma agressividade crescente do euro e dos imperialistas que o apoiam. Os EUA não vão ficar á espera que o euro prossiga tranquilamente a sua ofensiva. “O enfraqueimento da zona euro sem olhar a meios será uma das directivas da política americana, afirmou o director do Instituto para os Problemas da Globalização de Moscovo, Mikhail Deliaguin, “visto que é a condição estratégica da sobrevivência dos EUA como líder político mundial”.
“A guerra contra o Iraque, explica um professor da Johns Hopkins University, “é uma estratégia dos EUA para prevenir uma fuga da OPEC para o euro como moeda de referência nas transacções petrolíferas. O controlo militar do petróleo do Iraque permitirá aos EUA contrariar o controlo dos preços imposto pela OPEC. Esta guerra não tem a ver com nenhuma ameaça de armas de destruição em massa nem com o terrorismo, mas com a disputa do petróleo”.