
O logro
Os cálculos eleitorais dominaram a Convenção do Bloco de Esquerda (BE). A crise económica, o estado comatoso da governação socialista, o desemprego, as novas leis laborais ou seja, aquilo que preocupa e molda a vida dos trabalhadores, não passou de simples ruído de fundo e pretexto para exercícios retóricos. Assinala-se assim a entrada do BE na idade adulta, como partido do sistema burguês com ambições assumidas de entrar na esfera governativa. E para provar que o BE já é um partido sério e responsável, com pessoas de valor, Francisco Louçã apresentou algumas propostas de moralização e penalização da ganância do grande capital, para que se ponha “ordem na casa” e se minorem os efeitos da crise. Falou pois para os grandes senhores da política e do capital, não para os de baixo. Nada de propostas “irrealistas”, como a expropriação do grande capital ou a amotinação dos trabalhadores contra o código do trabalho e pelo derrube do governo.
A estratégia de “assalto ao poder” do BE (segundo as teses à Convenção) assenta na sua convergência com a ala centrista do PS encabeçada por Manuel Alegre e Helena Roseta, tendo em vista os próximos actos eleitorais – Assembleia da República, Parlamento Europeu, autárquicas e presidenciais – de forma a isolar tanto o PCP como a ala neoliberal do PS. Se tudo correr bem, fica ainda mais aberta a porta para, a mais longo prazo, caminharem mais decididamente para a fusão orgânica do BE com os críticos do socratismo e a criação de um novo movimento político, aquilo a que chamam uma nova refundação da esquerda.
O problema desta estratégia (do ponto de vista dos de baixo, não dos que sonham com cargos ministeriais) – no que ela tem  de essencial comungam tanto a direcção do BE como a oposição interna – é que ela assenta num erro de avaliação. Ao contrário do que dizem, Alegre e Roseta não se deslocaram para a esquerda. De facto, o que houve foi um deslocamento para a direita, tanto do BE e dos renovadores como, de forma ainda mais acentuada, do PS. Alegre, Roseta continuam onde sempre estiveram, na ala direita da social-democracia.