Irã: A sintonia entre Falcões(americanos) e Tucanos (brasileiros)
A atabalhoada reação norte-americana ao acordo com o Irã, negando uma proposta  que há seis meses vocalizava como  imperativo da paz, demonstra que a prioridade da Casa Branca  não é, nunca foi, conter a proliferação nuclear no Oriente Médio.  Seu objetivo agora explícito, ao preconizar uma escalada de sanções que incluem  a interceptação de navios iranianos em alto mar e a devassa no Banco Central do país,    é  a rendição incondicional de Teerã à hegemonia  dos EUA e a de seus aliados  na região. A paz é secundária nesse jogo de xadrez em que Washington só aceita o xeque-mate a seu favor.
O termo 'rendição incondicional' foi apropriadamente utilizado pela arguta analista  da Folha, Claudia Antunes, para descrever a estratégia de guerra embutida no vocabulário da paz  expresso nos movimentos públicos e reservados de Obama e da  secretaria Hillary Clinton nos últimos dias. Obama ligou para Medvedev e tentou catequizá-lo por uma hora e 30 minutos  para sabotar a iniciativa brasileira de paz   pouco antes do desembarque  de Lula em Moscou.
Fez o mesmo com o principado do Qatar, horas antes da chegada da comitiva brasileira.  Desnuda-se à opinião pública mundial que o  Departamento de Estado norte-americano opera para derrubar governo iraniano, sendo o Tratado de Não Proliferação Nuclear mero adereço de mão desse desfile bélico. As   'armas de destruição em massa' cumpriram papel semelhante na pavimentação do ataque desastrado  ao Iraque que jogou os EUA em um novo atoleiro no Oriente Médio. 
O desenlace desta vez   –se 'bem sucedido', o que é a cada dia mais controverso– seria  possivelmente instalar em Teerã um regime da estrita confiança de Washington, a exemplo das notáveis 'democracias' reinantes na 'liberal'  Arábia Saudita ou no Qatar.
É a sintonia sabuja  com essa lógica de isolamento e golpe que o candidato da coalizão demotucana, José Serra,  expressou recentemente em entrevista à RBS, ao dizer: » 'Eu não receberia, nem visitaria  Ahmadinejad'.
A subserviência  soa como música aos ouvidos dos falcões de Washington nesses dias. Fica claro, porém, em mais esse aspecto, que o Brasil de hoje não é o de ontem; e que Serra não é, nunca foi, nem poderia ser um continuador da política de Lula, tanto no plano doméstico, quanto no cenário internacional.
 
 
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