Guiné-Conakry – Golpe de Estado preventivo
Quase em simultâneo com a morte do velho ditador Laussana Conté, uma Junta Militar chefiada por Moussa Dadis Camara tomava o poder, prometia eleições livres e a devolução do poder ao povo. E, ao contrário do que costuma acontecer nesta situações, a “comunidade internacional” não se agitou, pelo que ficámos a saber que aquele era um golpe de Estado dos bons.
Há muito que a Guiné-Conakry faz parte do quintal francês em África. Com 10 milhões de habitantes, este país detém as maiores reservas mundiais de bauxite, é o segundo produtor de alumínio (metal extraído da bauxite), é rica em diamantes, petróleo, urânio, e tem água em abundância. No entanto, a sua população é praticamente analfabeta, não tem acesso a água, electricidade e serviços de saúde. A esperança de vida fica-se pelos 50 anos. A corrupção é omnipresente e é normal o exército – pago, armado e treinado pela França – reprimir a tiro as manifestações contra a fome, como em 2007.
Daí que o golpe de Estado não só tenha sido possível com o aval da França, como certamente foi por ela inspirado, para prevenir eventuais revoltas populares potenciadas pelo vazio de poder e as disputas entre facções. Ou seja, face à morte súbita do velho ditador, a França procedeu à substituição de uma ditadura por outra, assegurando assim a estabilidade política e institucional necessárias ao bom andamento dos negócios das 70 empresas francesas (Balloré, TOTAL, BNP Parisbas, Bouygues, etc.) que exploram as riquezas daquele país africano.
Não terá sido obra do acaso o rápido reconhecimento da junta militar pela França, seguida do anúncio de que a cooperação iria continuar, e o envio de um caixeiro-viajante de serviço, o secretário de Estado da Cooperação. Para tratar de assunto correntes, um subalterno chega.