Cine-Brasil: “Castanha”- documentário ou ficção?
CASTANHA – TEASER from Tokyo Filmes on Vimeo.
Em Castanha, primeiro filme do jovem cineasta gaúcho Davi Pretto, não ficam claras as barreiras entre a ficção e o documentário. Nem precisam ficar. O trunfo do longa-metragem é justamente deixar o espectador adentrar na história do protagonista que interpreta (ou vive) seu próprio papel. João Carlos Castanha é ator de teatro, animador e faz performances como transformista em boates masculinas da cena underground de Porto Alegre.
O filme Castanha, nas telas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Caxias do Sul, Goiânia, Aracaju e em Salvador. Selecionado e exibido pela primeira vez na sessão Fórum do Festival de Berlim, que destaca os trabalhos autorais, o longa-metragem retrata a vida do ator de 52 anos que vive com sua mãe Celina Castanha, de 72. Ela, aliás, se sai muito bem interpretando seu próprio papel, de mãe João, e a interação entre eles rende cenas emocionantes.
Para quem não conhece João nem seu personagem Castanha, o filme pode facilmente ser visto como uma ficção. Assim como as narrativas se misturam, João também parece se perder entre o que é realidade e o que é atuação. Em casa com a mãe e os cachorros, a monotonia e lentidão de sua vida diurna, o trabalho nas boates… O que é performance e o que é vida real?
Cada espectador vai achar sua própria resposta, construí-la cena a cena porque em Castanha nada virá de mãos beijadas. Apesar de o trabalho nas boates aparentemente ter mais “apelo” que a vida familiar e diurna de João, é em casa que a trama se desenrola mais profundamente e conhecemos o João para além de Castanha.
A preocupação de Celina com o estilo de vida e o ambiente de trabalho que João tem, os problemas causados pelo filho da irmã, viciado em crack, a saúde frágil, a solidão e a sequência interminável de cigarros compõem o personagem real e fictício.
O longa-metragem também ronda o assunto morte, tanto que a cena de abertura traz João cambaleando nu, encharcado de sangue em uma rua deserta escura. Em certo momento, Celina também aparece ensanguentada. Há ainda o pai de João, moribundo em um asilo. Sem falar nos amigos que partiram (ou sobreviveram) à epidemia de aids na década de 1980. Castanha tem de batalhar dia a dia para viver de arte na capital gaúcha. Enfim, são muitas as metáforas acerca do tema.
A imagem franzina, enrugada e frágil do ator contrasta com a inusitada interpretação que faz de si mesmo. Ele e o diretor Davi Pretto apresentam seu personagem de maneira grandiosa, ambos com talento proporcional ao que João tem demonstrado em mais de 30 anos nos palcos de Porto Alegre.
Vídeo:CASTANHA – Trailer
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