Brasil. «Meu partido é o Brasil»
Crime da Toneleros em Juiz de Fora?
6 de setembro. Véspera do Dia da Independência, data que sempre foi mais militar do que civil. Desfiles, fardas, botas, tanques. O candidato da direita e da caserna, Jair Bolsonaro, tomba com uma facada no abdômen. É levado nos braços do «povo». A camisa diz «Meu partido é o Brasil». Brasil partido. Golpe após golpe. A cadela do fascismo está faminta. Leia Brecht. Violência gera violência. Ódio estimula ódio. Tiros e pedradas na Caravana de Lula. Ana Amélia, rainha da chibata. Marielle presente. Investigação ausente.
O mundo político se transfere para a Santa Casa de Juiz de Fora. E agora para o Albert Einstein. Teorias conspiratórias. Derrame de fake news. A mídia crava a palavra «atentado». Jornal Nacional capricha no infográfico.
No mundo plano, candidatos condenam o ataque – e a mídia registra burocraticamente. Nas redes sociais e no subterrâneo, culpa-se o mordomo de sempre: o PT.
Minas é um estado governado pelo PT. Um segurança de Dilma teria «alistado» o doente mental que feriu Bolsonaro, driblando um enorme contingente de Federais que faziam sua segurança. Vaza-se que Bispo, nosso Lee Harvey Oswald, foi do Psol. Filhos de Bolsonaro usam redes sociais para falar em vitória no primeiro turno. Bolsa surta – de alegria. PF fala genericamente em «segundo suspeito».
A velocidade da recuperação do capitão conduz a uma nova estratégia. Vice de Bolsonaro, general Mourão, o que defende um golpe, culpa o PT. Provas? Não carece. Ele é o primeiro na linha de sucessão – inclusive na campanha. Informações sobre chefes militares indo para Juiz de Fora. Foto na sala de cirurgia. Médicos sem luvas. Bolsonaro faz pronunciamento da cama do CTI, após oração de Magno Malta. Mito.
Da cadeia, Lula não pode falar. Era o momento de Haddad. Pesquisas que circulam nas campanhas indicavam que o capitão desinflava. Tem – tinha – a mais alta taxa de rejeição. Sofria intenso bombardeio na propaganda de Alckmin. Agora os comerciais serão retirados do ar. O Brasil do ódio também é o Brasil da paixão. Da comoção. Dos mártires. Mídia fala em «alerta máximo» na eleição.
Cantanhêde, no Estadão, fala em «investigar eventuais motivações políticas, evitar a contaminação mortal das eleições». Merval Pereira, no Globo, declara «situação de ruptura». O ovo eclodiu. Agora segurem a serpente. Para bom entendedor, meia facada basta.
* Ricardo Miranda. Jornalista e analista sênior de informações. Formou-se na Universidade de Brasília em 1987. Por mais de 20 anos, foi repórter, editor, correspondente e chefe de Sucursal em alguns dos principais veículos de comunicação do País: O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Istoé e Correio Braziliense. Trabalhou na FSB Comunicação, onde, por oito anos, foi diretor do núcleo de Mídia & Análise.
É diretor de Atendimento da Santafé Ideias, no Rio, além de colaborador da Avenida Comunicação. Também é sócio-fundador da RMPJ e da Revista Tablado. Entre as premiações que recebeu estão o Prêmio Esso de Jornalismo, com a equipe de IstoÉ, e Menção Honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. É pai de Bruno e Gabriela.
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