Brasil-Memória Histórica: Feriado Nacional de 21de abril [Reflexões]

 Inconfidência Mineira e Joaquim José da Silva Xavier, o alferes, conhecido como Tiradentes, esquartejado pelos caminhos de Minas Gerais (21 de abril de 1789). O Alferes e o Golpe Civil Militar de 64.


 

O subversivo Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792)

“Tiradentes esquartejado nos braços da Senhora Aparecida,padroeira do Brasil, teria sido o símbolo perfeito para a Proclamação da República em 15 de novembro 1899.”

Osmar Gomes da Silva  

História

 República de Minas Gerais

A Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira destacou-se por ter sido o primeiro movimento social republicano-emancipacionista de nossa história. Eis aí sua importância maior, já que em outros aspectos ficou muito a desejar. Sua composição social por exemplo, marginalizava as camadas mais populares, configurando-se num movimento elitista estendendo-se no máximo às camadas médias da sociedade, como intelectuais, militares, e religiosos.

Outros pontos que contribuíram para debilitar o movimento foram a precária articulação militar e a postura regionalista, ou seja, reivindicavam a emancipação e a república para o Brasil e na prática preocupavam-se com problemas locais de Minas Gerais.

O mais grave, contudo foi a ausência de uma postura clara que defendesse a abolição da escravatura. O desfecho do movimento foi assinalado quando o governador Visconde de Barbacena suspendeu a derrama, seria o pretexto para deflagrar a revolta – e esvaziou a conspiração, iniciando prisões acompanhadas de uma verdadeira devassa.

O Reino de Portugal e D. Maria, a louca

Os líderes do movimento foram presos e enviados para o Rio de Janeiro responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Todos negaram sua participação no movimento, menos Joaquim José da Silva Xavier, o alferes conhecido como Tiradentes, que assumiu a responsabilidade de liderar o movimento. Após decreto de D. Maria I, a louca, é revogada a pena de morte dos inconfidentes, exceto a de Tiradentes.

Quando soube que a rainha concedera clemência a seus companheiros condenados a morte, excluindo ele do perdão, comentou:

«Dez vidas daria se as tivesse, para salvar as deles!»

Alguns tiveram a pena transformada em prisão temporária, outros em prisão perpétua. Cláudio Manuel da Costa morreu na prisão, o­nde provavelmente foi assassinado.

Tiradentes, o de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais (21 de abril de 1789). Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder da metrópole.

Joaquim José da Silva Xavier afirmava:

«Esta terra há de ser um dia maior que a Nova Inglaterra! Mas, as suas riquezas só as poderemos alcançar no dia em que nos libertarmos do jugo dos portugueses para sermos os senhores da terra que é nossa».

Conjuração Baiana

O exemplo parece que não assustou a todos, já que nove anos mais tarde iniciava-se na Bahia a Revolta dos Alfaiates, também chamada de Conjuração Baiana.

A influência da loja maçônica Cavaleiros da Luz deu um sentido mais intelectual ao movimento que contou também com uma ativa participação de camadas populares como os alfaiates João de Deus e Manuel dos Santos Lira.

Eram pretos, mestiços, índios, pobres em geral, além de soldados e religiosos. Justamente por possuír uma composição social mais abrangente com participação popular, a revolta pretendia uma república acompanhada da abolição da escravatura. Controlado pelo governo, as lideranças populares do movimento foram executadas por enforcamento, enquanto que os intelectuais foram absolvidos.

Movimentos de Emancipação

Outros movimentos de emancipação também foram controlados, como a Conjuração do Rio de Janeiro em 1794, a Conspiração dos Suaçunas em Pernambuco (1801) e a Revolução Pernambucana de 1817.

Esta última, já na época que D. João VI havia se estabelecido no Brasil. Apesar de contidas todas essas rebeliões foram determinantes para o agravamento da crise do colonialismo no Brasil, já que trouxeram pela primeira vez os ideais iluministas e os objetivos republicanos.

Mesmo após a independência do Brasil, em 1822, Tiradentes não seria reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira.

Somente em 1867 é que se ergueu em Ouro Preto um monumento em sua memória, por iniciativa do presidente da província Joaquim Saldanha Marinho.

O debate que se travou na época da passagem do Império para a República foi muito limitado pois envolveu um pequeno grupo de liberais, jacobinos e positivistas. O tema central do debate foi a legitimação da República, porém um pequeno grupo de beneficiados deu-se ao direito de encampar e monopolizar o as idéias e ações.

Hoje é possível afirmar que, passados 134 anos da Proclamação, não se estabeleceu um consenso nacional mínimo entre o que é e o que deveria ser uma República. Até o herói republicano foi forjado. Tiradentes que até então era visto como esquartejado e subversivo toma ares de herói cívico. Um herói um tanto ambíguo pela história que teve. Mas tentaram e conseguiram relacionar seu rosto com o de Cristo e ele como que saiu das cinzas do passado e passou a habitar a consciência das pessoas como mártir de um povo. Sua figura até então banida da sociedade passou a figurar no alto escalão como exemplo daquele que queria o bem de todos. O subversivo tornou-se símbolo de uma pátria.

Na  Ditadura Civil Militar  de 64

De condenado tornou-se militar exemplar. Depois do Golpe de 64 na Ditadura Militar, pela lei 4.867, de 9 de dezembro de 1965, Tiradentes foi proclamado patrono cívico da nação Até hoje não conseguiram fazer dele um herói religioso.

Bem que tentaram compor uma dupla entre ele e Nossa Senhora Aparecida. Tiradentes esquartejado nos braços de Nossa Senhora Aparecida teria sido o símbolo perfeito para o regime político que estava prestes a ser implantado.

A união entre o sagrado e o profano estaria garantida para sempre pois no imaginário religioso do povo o que vale é aquilo que dá algum sentido para a vida, não importa muito de o­nde provém. Tiradentes nos braços da mãe Aparecida seria a união perfeita que a República até hoje não foi capaz construir.

O Alferes e o Golpe Civil Militar de 64

Memória

Os militares golpistas  não gostavam de Novelas da TV Excelsior!

Em 1969, a novela “Dez Vidas” da TV Excelsior foi censurada.

O coronel gorila da censura  determinou: «Meu filho não adianta. Tiradentes foi um subversivo e ponto final’.»

A censura interveio, não gostou do tema por considerá-lo subversivo. De acordo com o livro  Glória in Excelsior, de Álvaro de Moya:

«Num jantar oferecido a um político, o diretor Waldemar de Moraes sentou-se ao lado de um coronel da censura federal e tentou convencer o militar que a censura não devia interferir tanto no texto da novela, atrapalhando a produção. O coronel respondeu: ‘Meu filho não adianta. Tiradentes foi um subversivo e ponto final’.»

 A novela mudou de horário e teve vários cortes. Mas a atribulação maior foi o fim que lhe reservaram. A TV Excelsior estava em crise e Dez Vidas terminava apressadamente. Mesmo no ar, a novela deixou transparecer a situação difícil da emissora, com os atores saindo da trama e a encenação tornando-se cada vez mais pobre.

De acordo com o livro Glória in Excelsior:

«Sobre Dez Vidas,esclareceu Gianfrancesco Guarnieri:

“… a gente já estava em crise absoluta, não tinha dinheiro para nada… Nós fizemos uma parada militar com 10 pessoas, focando os pés. Os atores corriam por trás da câmera e entravam de novo na fila e a câmera continuava apenas mostrando os pés. Depois fazia alguns closes de rostos, evitando planos gerais e dando a idéia de muitos soldados’.»

«Referindo-se à Dez Vidas, o ator Peirão de Castro informou que os atores,não receberam o pagamento e foram abandonando a emissora, que no final só ficou com 5 atores: Carlos Zara, que era oTiradentes, Fábio Cardoso, Gianfrancesco Guarnieri, Oswaldo Mesquita e ele, Peirão de Castro, que era o carcereiro.»

TV Excelsior

Em pouco tempo a TV Excelsior foi destruida  pela Ditadura Civil Militar de 64. Não era do PIG*.

 

PS do Colaborador:

Lembrando o jornalista Paulo Henrique Amorim

 (*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Paulo Henrique Amorim

 

Fotoarte: “Subversivo”

 

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