Brasil. Jornalistas humilhados
Mônica Bergamo, Amanda Audi e Ana Dubeux
A imprensa é tratada como lixo
Tudo foi relatado de forma cinematográfica pela jornalista Mônica Bergamo. Os jornalistas foram forçados pelo cerimonial a chegar aos locais de cobertura com oito horas de antecedência, não tiveram acesso a banheiros ou bebedouros e uma fotógrafa chegou a temer ser abatida por um sniper.
Depois de tanto acusar o PT de querer censurar a imprensa, os jornalistas viram de perto como funciona uma ditadura.
«Foi algo jamais visto depois da redemocratização do país, em que a estreia de um novo governo eleito era sempre uma festa acompanhada de perto, e com quase total liberdade de locomoção, pelos profissionais da imprensa.
O sufoco começou dias antes, no credenciamento
Os jornalistas foram informados de que não poderiam ter acesso livre, por exemplo, ao salão nobre do Palácio do Planalto, onde o presidente sobe a rampa, dá posse aos seus ministros e recebe cumprimentos de autoridades internacionais.
Na posse de Lula, em 2003, repórteres chegavam a se aglomerar em torno dele e de Fernando Henrique Cardoso, misturando-se entre a equipe recém-empossada e a que deixava o governo», escreveu a jornalista Mônica Bergamo, em um relato sobre a humilhação imposta pelo governo Bolsonaro aos profissionais de imprensa.
Depois de tanto acusar o PT de querer censurar a imprensa, os jornalistas viram de perto como funciona uma ditadura. Uma fotógrafa chegou a temer pela própria vida. «
A assessoria alertava:
Neste local, era preciso evitar movimentos bruscos. Fotógrafos não deveriam erguer suas máquinas. Qualquer movimento suspeito poderia levar um sniper [atirador de elite] a abater o ‘alvo’.
Uma jornalista voltou apavorada para a redação. Avisou à chefia que preferia não cobrir a posse. Não queria morrer. Foi convencida do contrário», escreveu Mônica Bergamo.
Franceses e chineses abandonam cobertura
No dia da posse de um novo governo no Brasil, a imprensa foi escolhida como alvo preferencial dos que chegam ao poder.
No twitter, Jair Bolsonaro atacou o que seria uma ‘fake news’ de Veja (leia aqui). Seu filho, Carlos Bolsonaro, afirmou que setores da mídia estão desesperados (leia aqui). Mas nada é comparável ao tratamento que os jornalistas vêm recebendo na cerimônia de posse.
A jornalista Amanda Audi, do Intercept, relata que nem cachorros são tratados desta maneira.
«Não se trata cachorro como os jornalistas são tratados na posse de Bolsonaro. Não tem água, precisa de autorização pra ir ao banheiro, não pode circular pra lugar nenhum, jornada de 14 horas, fomos revistados duas vezes e nos alertaram que há risco de levar bala dos atiradores».
Ana Dubeux, do Correio Braziliense, diz que profissionais da imprensa não têm direito a água e a banheiro. Vicente Nunes, também do Correio, afirma que correspondentes da China e da França decidiram abandonar a cobertura.
«Jornalistas da França e da China se rebelam e abandonam sala onde estavam confinados no Itamaraty. Disseram que não aceitariam ficar em cárcere privado até às 17h, quando seriam liberados para fazer registros da posse de Bolsonaro. Essa rebelião deveria ser geral», afirmou.
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https://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/379072/Mônica-Bergamo-detalha-a-maior-humilhação-da-história-da-imprensa-brasileira.htm