Brasil-Debate. Lula deveria sair de cena?
O senador Jaques Wagner (PT-BA) declarou ontem em uma entrevista concedida à rádio Metrópole, da Bahia, que o Partido dos Trabalhadores deve passar por uma série de reformas internas após resultados em grande parte decepcionantes nas eleições municipais.
Wagner defendeu uma “mudança geracional” no partido, o que acrescentaria um novo ímpeto e aumentaria o apelo do partido em tempos onde a renovação é uma demanda grande da esquerda brasileira.
“Na minha opinião, o que o PT deve fazer é isso: uma mudança de conteúdo, quer dizer, para atualizar seu conteúdo, e uma mudança geracional, botando gente mais nova. Nada contra a gente (mais velhos), porque ainda desempenhamos muita coisa boa, mas é preciso trazer a outra geração para ocupar espaço”, disse.
O senador acrescentou que, apesar de considerar o ex-presidente Lula um “amigo irmão”, o partido deve se tornar mais independente de seu líder.
“A gente não pode ficar refém. Eu sou amigo irmão do Lula, mas vou ficar refém dele a vida inteira? Não faz sentido. É a minha opinião sincera e parabéns aos jovens que participaram [das eleições municipais] e ganharam”, disse.
Na entrevista, Wagner também se colocou como um possível nome para 2022, apesar de ter 69 anos: “Para 2022, eu acho que tem que esperar um pouco essa cena ir se arrumando, mas meu nome está colocado”.
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https://www.brasil247.com/poder/jaques-wagner-pede-renovacao-geracional-no-pt-e-independencia-do-partido-em-relacao-a-lula
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Lula deveria sair de cena?
Nada mais lamentável do que vermos petistas usarem Lula como bode expiatório de uma derrota eleitoral cuja responsabilidade é de todo o partido, sobretudo do Diretório Nacional e de nossos governadores
Nem o golpe do impeachment, nem a condenação e prisão ilegais e nem mesmo a eleição do fascista Bolsonaro conseguiram tirar Lula da cena política. Será que o seu próprio partido, qual um Brutus petista, o fará?
Depois da nossa derrota eleitoral no segundo turno, em 2020, vemos certos dirigentes petistas afirmarem que “Lula deveria sair de cena” e que ele precisa abrir espaço para a “renovação” do partido.
Nada mais lamentável do que vermos petistas usarem Lula como bode expiatório de uma derrota eleitoral cuja responsabilidade é de todo o partido, sobretudo do Diretório Nacional e de nossos governadores, que perderam a eleição nas capitais de seus estados.
Além de profundamente desrespeitosos com a história e liderança de Lula, sob a qual todos cresceram, aqueles argumentos são equivocados, irresponsáveis e oportunistas e não conseguem esconder interesses políticos pessoais.
O “espaço” de Lula é o espaço de sua forte liderança popular, que nem toda a perseguição midiática e judicial conseguiram destruir. É uma influência política muito maior do que a do partido e que este soube muito bem usar, as vezes até menos do que poderia.
A renovação de um partido socialista se faz por meio da ampliação da luta de classes e pressupõe a sua ligação permanente com os movimentos dos trabalhadores, das mulheres, dos estudantes e da juventude em geral.
O processo de renovação pode e deve ser planejado, coisa que nunca fizemos adequadamente, mas ele depende do nosso envolvimento diário na luta das massas. E o PT se afastou dessa luta desde que virou governo federal. E a maior parte da renovação passou então a ser feita de forma fragmentada ou por outros partidos de esquerda, mas não pelo PT.
Efetivamente, a realidade mostra que a grande maioria dos jovens que entram para luta não está vindo para o PT. Mas não podemos jogar no colo de Lula toda a culpa desse processo, que é muito maior do que ele. Esse argumento parece querer apenas se “livrar” de Lula para tudo o mais no partido permanecer o mesmo. É um argumento oportunista, pois esconde também interesses pessoais na disputa presidencial e principalmente é uma posição irresponsável, pois significa jogar fora a água suja da bacia com a criança dentro.
No momento, a base popular se mantém afastada do partido e o partido dela, apesar de queremos o contrário. Mas não basta querer. Para tanto temos, primeiro, de mudar muita coisa internamente, desde o nosso modo de fazer política até o distanciamento burocrático de nossas direções com as bases, com a valorosa militância que continua acreditando no PT e quer lutar.
Quando a insatisfação do povo explodir, e vai explodir, embora inicialmente de forma anárquica; quando grande parte da sociedade cobrar uma saída para a crise e a superação do caos, nesse momento o PT precisará estar na trincheira da luta pronto para liderar. Será o momento em que o povo, em busca da saída, se voltará novamente para Lula, sua liderança mais visível e confiável.
Até agora não se formou nenhuma liderança nacional de esquerda com a força e competência política de um Lula para liderar o povo. Todos os que despontam são promessas positivas para o futuro da luta, mas não para o presente. Mesmo que não seja candidato, Lula continuará sendo até 2022 o fator decisivo de qualquer equação política da esquerda e centro-esquerda.
Por isso, Bolsonaro, Doria, Ciro, Globo e toda a mídia da Casa Grande, a cúpula militar e as forças reacionárias e imperialistas querem manter Lula de fora da disputa presidencial de 2022.
No entanto, o que realmente não esperávamos, até por ser uma posição politicamente suicida, é ver setores do próprio PT agirem no mesmo sentido da direita e da ultradireita para golpear e afastar Lula. Ou tirá-lo de cena, como querem alguns.
https://www.brasil247.com/blog/lula-deveria-sair-de-cena
PS do Colaborador:
Fotoarte: “Fecham-se as cortinas?”