Brasil-Cultura. A secretária da cultura encena ato de sua demissão
Regina Duarte praticamente assinou sua carta de demissão ao dar uma entrevista ao repórter Ernesto Paglia, na TV Globo – Fantástico.
Joaquim de Carvalho
Questionada sobre o que pretende fazer com Sérgio Nascimento, o presidente da Fundação Palmares, disse que ele é um ativista mais do que um gestor público.
Ou seja, não tem credenciais para permanecer no governo, em qualquer governo que pretenda tratar a coisa pública de maneira minimamente adequada.
Nascimento foi escolhido para presidir a Fundação Palmares pelo antigo secretário, Roberto Alvim, que caiu depois de repetir discurso de Joseph Goebbels, o ministro de propaganda de Hitler.
Nascimento já disse que considera que não existe racismo no Brasil e que, sob certo sentido, a escravidão foi positiva para os negros.
“A senhora pretende fazer o que com esse senhor?”, perguntou Paglia.
A secretária de Cultura respondeu:
“Voltamos aí a essa situação da política, que interfere no fazer cultural, na medida em que temos uma pessoa que é um ativista mais do que um gestor público.
Eu estou adiando esse problema porque esta é uma situação muito aquecida.
Não quero que isso desequilibre o que estou percebendo aí, ganhe mais espaço.
Quero que baixe um pouco a temperatura. E logo, logo a gente vai ver. O que tem que ser tem muita força”, afirmou.
Regina Duarte já poderia ter demitido Nascimento, como fez com outros assessores da Secretaria de Cultura, mas sabe que o presidente da Fundação Palmares tem uma ligação direta com Bolsonaro.
Não fosse assim, o presidente não o teria recebido no Palácio do Planalto um dia antes da posse na secretária, tirado foto e ainda postado na rede social.
Era um recado para a Regina. Foi como se ele dissesse: este cara é meu, joga no meu time.
Enquanto Nascimento permanecer na Fundação Palmares, Regina Duarte não terá autonomia sobre os assuntos de cultura do governo federal.
Era previsível que fosse assim.
Bolsonaro prometeu a Regina Duarte “porteira fechada” e “carta branca” na Secretaria de Cultura.
O que Bolsonaro diz não se escreve.
Pouco importa que Regina Duarte tenha dito, no discurso de posse, que não esqueceu a promessa de Bolsonaro.
Ele respondeu na hora. Faz a promessa para todos os ministros e secretários. Mas interfere quando julga necessário.
Ali Regina Duarte deveria ter ido embora, se quisesse preservar sua autoridade e até a biografia, já manchada pelo apoio que deu à direita e à extrema direita no Brasil, depois de dedicar anos da sua vida ao que pode ser considerado centro-esquerda, inclusive com visita a Fidel Castro.
Daniel Filho, com quem ela foi casada, disse que Regina Duarte não era essa mulher reacionária. Era até meio de esquerda, segundo ele.
Regina Duarte terá pela frente dois caminhos.
Ou radicaliza no seu mergulho na extrema direita que tem desgraçado o Brasil, ou vai embora e tenta se reconciliar com a classe artística.
Ela não vai conseguir fazer as duas coisas.
Seria melhor sair antes do que ser demitida ou exposta à máquina de fake news e de ódio que é a essência do bolsonarismo. Pouco importa que, na mesma entrevista, tenha feito aceno à direita hidrófoba, ao dizer que minorias não terão verba pública.
Que minorias seriam estas? As que não rezam na cartilha do bolsonarismo?
Pobre Regina. Já não sabe o que diz, e tem a ilusão de que a arte livre possa sobreviver num governo que é resultado do empoderamento da ignorância.
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Bolsonaro cancela nomeação
Cancelada nomeação de secretária da Diversidade Cultural indicada por Regina Duarte.
Cargo é ligado à Secretaria de Cultura, comandada pela atriz. Assessoria da pasta culpa ‘entrave burocrático’ e diz que expectativa é que ‘tudo se resolva nos próximos dias’.
G1
A Casa Civil do governo federal cancelou nesta segunda-feira (9) a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho como secretária de Diversidade Cultural. Ela tinha sido nomeada três dias antes, na sexta (6), e nem chegou a tomar posse no cargo.
O posto pertence à Secretaria Especial de Cultura, comandada desde a última quarta (4) pela atriz Regina Duarte. Questionada, a assessoria da pasta informou que «entraves burocráticos tornaram a nomeação sem efeito».
«A expectativa é que tudo se resolva nos próximos dias», afirmou a assessoria, sem deixar claro se Maria do Carmo será indicada novamente para a mesma posição.
O cancelamento da nomeação foi publicado em uma edição extra do «Diário Oficial da União», assinado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto. A edição não traz o nome de um substituto para o cargo.
‘A gente não sabe qual grau de paciência a Regina Duarte tem para alfinetadas’, diz Lôbo
Pela manhã, o Ministério do Turismo – onde está lotada a Secretaria Especial de Cultura – publicou o currículo da nova secretária no site oficial.
«Com vasta experiência em gestão social pública e em Assistência Social, Educação e Habitação de Interesse Social, Maria do Carmo prestou consultorias para diversos órgãos e instituições nacionais públicas e privadas, além de fazer parte de missões no Brasil e no exterior», diz o ministério.
«Além disso, já atuou como secretária nacional de Assistência Social do Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário, conselheira do Conselho Superior de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), secretária-adjunta na Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo e superintendente do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária.»
Entre 2016 e 2019, Maria do Carmo Brant foi secretária Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social (atual Cidadania).
Secretaria estratégica
Até fevereiro, a Secretaria de Diversidade Cultural era chefiada pela reverenda Jane Silva – amiga de Regina Duarte que chegou a ser convidada para ser a «número 2» da atriz na pasta.
Jane Silva assumiu o comando temporário da Cultura após a exoneração de Roberto Alvim, que deixou o governo após publicar um vídeo com referências à propaganda nazista. Mas, em 7 de fevereiro, Jane foi exonerada do cargo por decisão do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
“Por decisão do Ministro do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio, a Secretária de Diversidade Cultural da Secretaria Especial de Cultura, Janicia Silva, será exonerada nesta data. Ainda não há nenhuma definição sobre quem irá ocupar o cargo”, informou a Secretaria Especial em nota.
PS do colaborador:
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