Brasil-Covid19. Greve dos entregadores de aplicativo [Vídeo]
Para entender as reivindicações da categoria e o que os motiva a realizar essa greve, é preciso entender as condições em que trabalham.
Condições precárias, remuneração baixa
A Associação Brasileira do Setor de Bicicleta, Aliança Bike, realizou uma pesquisa em 2019 para entender a realidade dos entregadores ciclistas. Divulgamos um vídeo recentemente com um apanhado geral desses números e entrevistas com alguns entregadores – entre eles uma mulher.
O estudo apurou que a maioria desses ciclistas são negros, moradores da periferia e jovens de até 22 anos, trabalhando de 9 a 10h por dia e todos os dias da semana, sem descanso. A média dos rendimentos é de R$ 936 mensais. Muitos optam pelas entregas por ser um trabalho sem processo seletivo e por permitir, ao menos em tese, flexibilidade de horário.
Esses números podem ter sofrido alguma variação com o aumento de entregadores durante a pandemia, mas servem como norte para traçar um perfil de quem faz entregas em bicicleta através dos apps.
Já naquele momento, um ano antes da greve de agora, a pesquisa indicava que as principais demandas desses trabalhadores era um “local de apoio com água, banheiro, tomada e oficina”e um “seguro de invalidez temporária” que garantisse alguma remuneração caso tivessem que parar de trabalhar por algum tempo, por questões de saúde ou em consequência de acidente.
Queda de ganhos durante a pandemia
Com muita gente praticando o isolamento social, as entregas aumentaram e os entregadores devem estar ganhando mais com isso, correto? Bem, talvez não.
Uma pesquisa recente, feita pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho), trouxe algumas informações adicionais – e preocupantes. 60,3% dos entrevistados afirmam ter havido queda na remuneração com a pandemia de coronavírus, comparando com o momento anterior.
“A Rappi em março teve um aumento de 300% do número de cadastros. Provavelmente aumentou o contingente enquanto está rebaixando o valor da hora de trabalho sem deixar isso claro. Inclusive não há nenhuma pré-determinação do valor mínimo da hora de trabalho desses motociclistas”, afirmou à BBC Brasil Ludmila Costhek Abílio. Ela é professora da Unicamp e uma das coordenadoras do estudo.
“A gente sabe que as empresas estão ganhando muito mais, tanto é que elas pararam de divulgar o faturamento. Sabemos que a Rappi em fevereiro tinha tido crescimento de 30% na América Latina, mas depois não temos mais dados”, relata Abílio. “O mais importante pra gente pensar agora é que os motofretistas [e os ciclistas entregadores] viraram trabalhadores de serviço essencial e precisam ser valorizados”, completa a pesquisadora.
Reivindicações
De acordo com o perfil @tretanotrampo, que tem divulgado a paralisação nacional e trazido esclarecimentos e informações em linguagem simples e direta, as reivindicações são:
1 AUMENTO DO VALOR POR KM
Motociclistas e ciclistas reclamam do valor por quilometragem, que resulta em necessidade de trabalhar por tempo acima do aceitável.
2 AUMENTO DO VALOR MÍNIMO
É a taxa mínima por entrega, que precisa ser um valor “que compense ligar a moto ou subir na bike”.
3 FIM DOS BLOQUEIOS INDEVIDOS
Os trabalhadores acusam as empresas de bloquear ou desligar entregadores “sem motivo”. Alguns alertam para o que chamam de “bloqueio branco”, que é quando o entregador continua cadastrado, consegue acessar o sistema, mas pode rodar o dia todo que não vai receber nenhum chamado. Pedem ainda que as empresas coloquem de volta no sistema quem teria sido bloqueado injustamente.
4 FIM DA PONTUAÇÃO E RESTRIÇÃO DE LOCAL
Segundo a pauta divulgada pelos trabalhadores, alguns sistemas como o da empresa Rappi possuem um sistema de pontuação, na prática os obrigaria a trabalhar nos finais de semana para consigam juntar pontos que os tornam aptos a trabalhar nos outros dias.
5 SEGURO DE ROUBO, ACIDENTE E VIDA
Caso aconteça um acidente enquanto se está trabalhando para a empresa, o ciclista ou motociclista fica descoberto e, além de arcar com possíveis custos de tratamento, ainda fica sem nenhum rendimento enquanto se recupera.
6 AUXÍLIO PANDEMIA (EPIs E LICENÇA)
Pede-se também que as empresas dos aplicativos ajudem com equipamentos de proteção contra o coronavírus. A demanda também inclui alguma forma de auxílio-doença caso contraiam a Covid-19 e precisem parar de trabalhar para se recuperar.
Como ajudar?
Não é entregador, mas quer manifestar apoio à causa? O que o pessoal pede nesse dia:
1Não peça nada pelos aplicativos nesse dia: aproveite para fazer uma comida em casa e postar nas redes com as hashtags de apoio.
2Avalie os apps negativamente nas lojas de aplicativo e poste comentários em apoio à paralisação
3Apoie e divulgue a paralisação nas redes sociais, usando as hashtags #BrequedosApps e #ApoieoBrequedosApps
Quem são os ciclistas entregadores?
Vídeo:
Fotoarte do colaborador
.